Morreu Mark Hollis, vocalista dos Talk Talk

Líder da banda a que se devem êxitos como It’s my life e Life’s what you make it morreu aos 64 anos. São já muitas as homenagens de familiares e amigos nas redes sociais.

Fotogaleria
O vocalista dos Talk Talk em 1990 Martyn Goodacre/Getty Images
Mark Hollis (segundo a contar da esquerda) numa fotografia da banda
Fotogaleria
Mark Hollis (segundo a contar da esquerda) numa fotografia da banda DR

Tinha-se retirado do mundo da música há já 20 anos mas foi, entre 1981 e 1992, o principal rosto – e a principal voz – da banda Talk Talk. Mark Hollis morreu aos 64 anos. A notícia foi avançada esta segunda-feira à noite pela imprensa britânica, citando homenagens feitas por familiares e amigos nas redes sociais, e confirmada já esta tarde, e segundo a britânica BBC, pelo seu antigo agente. "Infelizmente é verdade", disse Keith Aspden sem adiantar pormenores, "o Mark morreu depois de uma curta doença de que nunca recuperou".

Até ao momento não se conhecem as causas da morte deste artista que está por trás de muitos dos sucessos da formação que ficará conhecida por canções como It’s my life, Talk talk, Life’s what you make it e Such a shame.

O baixista Paul Webb, mais conhecido por Rustin Man, foi dos primeiros a prestar-lhe tributo, escrevendo no Facebook “estou muito chocado e triste por saber da morte de Mark Hollis. Musicalmente ele era um génio e foi uma honra e um privilégio ter estado numa banda com ele”. Os dois músicos não se mantinham em contacto, mas a influência de Hollis em Webb foi importante: “Não via o Mark há muitos anos mas, como muitos músicos da nossa geração, fui profundamente influenciado pelas suas ideias musicais pioneiras. Ele sabia, como ninguém, criar uma profundidade de sentimentos com o som e com o espaço. Ele era um dos grandes, se não o maior.”

Durante o seu curto período de vida, nove anos, os Talk Talk lançaram cinco álbuns de estúdio, incluindo The Colour of Spring (1986), que chegou ao número oito dos tops de vendas no Reino Unido. Lembravam segunda-feira à noite os jornais britânicos que foi precisamente com este álbum que a banda optou por uma nova abordagem, improvisando mais com a guitarra, o órgão e o piano, cunhando um género que ficaria conhecido como “pós-rock”.

“Descansa em paz, Mark Hollis. Primo. Maravilhoso marido e pai. Homem fascinante e de princípios. Retirado da indústria da música há 20 anos mas um ícone indefinível”, twittou o professor universitário Anthony Costello.

Depois de a banda se ter dissolvido em 1992, Hollis lançou ainda um único álbum a solo, em 1998 (Mark Hollis, assim se chamava), mas pouco depois retirou-se da cena musical. Muito crítico em relação ao mercado discográfico e avesso às pressões e à excessiva exposição pública que exigia, disse na hora da despedida, recordou agora o diário The Guardian: “Escolho a minha família. Talvez outros sejam capazes de o fazer, mas eu não consigo andar em digressão e ser um bom pai ao mesmo tempo.”

Broken Social Scene, Doves, Mansun e The The estão entre as bandas e músicos que já prestaram homenagem a Hollis. Matt Johnson (The The) garantiu que a ele se devem alguns dos melhores álbuns dos finais dos anos 1980 e Yannis Philippakis, dos Foals, escreveu: “Sempre quis conhecer Mark Hollis e agradecer-lhe a sua música. Espero que ele soubesse o quanto significava para tantos de nós.”

Hollis terá o seu nome para sempre ligado a álbuns como Spirit of Eden (1988) e Laughing Stock (1991). Foi em relação ao primeiro que, na altura do lançamento, afirmou durante uma entrevista: “É certamente uma reacção à música que anda por aí, porque a maioria dela é uma merda. Só é [um álbum] radical neste contexto. Não é radical comparado com o que estava a acontecer há 20 anos.”

O carácter inovador e o “génio criativo” de Hollis marcam muitos dos post que o homenageiam, sublinhando o seu legado e o dos Talk Talk, algo que formações como os Radiohead, Sigur Rós e Portishead já reconheceram publicamente e por diversas vezes.

Foi o trabalho de improvisação de Mark Hollis, que se intensificou nos últimos álbuns, que tornou as digressões dos Talk Talk impossíveis, escreveu o jornalista Tony Clayton-Lea no The Irish Times. Depois de Spirit of Eden, lembrou, o vocalista e compositor disse que não conseguiria voltar a tocar a sua música porque não saberia como: “Escrevê-la e ter alguém a tocá-la seria perdê-la, seria perder toda a pureza do que ela é no original.”

Notícia alterada às 14h50 para acrescentar a confirmação da sua morte pelo seu antigo agente, Keith Aspden

Sugerir correcção
Ler 2 comentários